Passam os dias, mudam os tempos, vão-se as gerações, mas algo continua latente na alma humana. A necessidade de controle. Queremos controlar todos os aspectos de nossas vidas, torna-las previsíveis permitindo apenas a imprevisibilidade a que estivermos dispostos a nos sujeitar. Neste ponto acabamos precisando controlar também as vidas daqueles que estão ao nosso redor o que gera inúmeros conflitos já que estes também sentem a mesma necessidade que nós de segurança e previsibilidade. Assim, a única forma de controle satisfatória passa a ser o poder, que se apresenta de várias maneiras e tem como objetivo principal o controle.
Este embate está presente tanto nas relações de primeiro grau quanto naquelas onde desejamos moldar alguém a nossa forma para obtermos satisfação pessoal.
E quantas vezes você já não desdenhou de alguém por simplesmente seguir um caminho que você não seguiria? Quantas vezes você já não apontou erros e até em seu íntimo torceu pela derrota daqueles que seguiram um caminho contrário aos teus conselhos?
Por outro lado, como saber o que realmente é certo num mundo tão dinâmico?
Afirmo sem medo de errar que somente pessoas pouco evoluídas estão certas de reunirem todo o saber sobre qualquer coisa. Estamos sempre um passo atrás do mínimo na escalada do conhecimento.
Mas então como podemos entender que alguém caminha bem ou mal? Como podemos ajudar aqueles que amamos a “errar menos” ou a tomar caminhos menos danosos a sua alma? Com certeza passa pelo entendimento de que é necessário deixa-los livres. Deus não nos chamou a infelicidade e sim a liberdade.
“Ora, o Senhor é o Espírito e, onde está o Espírito do Senhor, ali há liberdade. ” 2cor3:17
Então como tomar posse? Como entender o que é estar em liberdade sem adentrar ao campo da libertinagem? Como interagir com o próximo sem invadir seu espaço? Aqui entendo que chegamos a barreira do empírico já que não há uma formula que possa afirmar com certeza qual a resposta a esta pergunta, mas eu acredito piamente que uma árvore deve ser conhecida por seus frutos. E os frutos daqueles que vivem no espírito são conhecidos:
“Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança. ” Gal5:22
E quantas pessoas “espirituais” conhecemos que não amam ao próximo, não sentem gozo em suas vidas, que não tem paz, não tem bondade, não são mansos? Assim também Paulo nos dá uma pista sobre os frutos daqueles que seguem caminhos que não deveriam:
“Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, fornicação, impureza, lascívia, Idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, Invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas. ” Gal5:19-21
Pecados? Não. Obras da carne. Aquela que milita contra o espírito. Aqui cabe uma necessária pontuação pois este trecho tem sido amplamente utilizado por aqueles que defendem a abstenção alcoólica dos cristãos. Assim como não é a comida o problema e sim a gula onde cita-se a glutonaria, também a bebedice não está relacionada a bebida em si e sim ao exagero dela. Por que? Porque o problema é aquilo que te domina, tudo aquilo que você coloca acima de Deus.
“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm. Todas as coisas me são lícitas; mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas. ” 1cor6:12-13
E aqui entra uma segunda ponderação. Todas as coisas me são licitas. O que afinal significa lícito?
lícito
adjetivo substantivo masculino
adjetivo substantivo masculino
1. que ou o que é justo ou permitido.
2. jur que ou o que é conforme à lei, aos princípios do direito.
Lícito, compreendo eu e o dicionário corrobora, é tudo aquilo que está dentro da lei. Mas, se tudo me é lícito onde entram os mandamentos da lei de Moisés?
“Pois, não reconhecendo a justiça que vem de Deus e buscando estabelecer a sua própria, não se submeteram à justiça de Deus. Porque o fim da Lei é Cristo, para justificação de todo o que crê. Ora, Moisés ensina desta maneira sobre a justiça que vem da Lei: “O homem que pratica a justiça proveniente da Lei viverá por meio dela”Rom10:3-5
Este trecho nos deixa três grandes pistas para entendimento deste novo momento após a cruz. Primeiro que após Cristo a lei de Moises deixou de ser válida e tudo o que nela continha deixou de ser considerado pecado por Deus ...
“Até a lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado, não havendo lei” Rom.5:13
... a segunda informação é que aquele que pretende viver sob o julgo da lei viverá por ela. E a terceira e mais importante é a de que estes, que vivem sob o julgo de uma lei morta através do cordeiro não reconhecem a justiça de Deus e buscam estabelecer sua própria. Impostores? E qual é a justiça de Deus que restou entendendo que a Lei deixou de existir?
“Não erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará. Porque o que semeia na sua carne, da carne ceifará a corrupção; mas o que semeia no Espírito, do Espírito ceifará a vida eterna. ” Gál 6:7-8
Deus não se deixa escarnecer, quer dizer que não importa quem seja você na carne pois nem mesmo a Cristo em carne ele viu (2Cor5:16). Deus trata com espíritos e o que agora rege o mundo é a lei do plantio e da colheita, ou seja, a justiça de Deus. Mas, e se você mesmo assim decidir colocar novamente o véu no santo dos santos e viver sob julgo de lei? É como se você jogasse no lixo tudo que foi feito crendo poder fazer melhor do que aquilo que ele fez (Heb6:4-6). Em tempo, se o sacrifício de Cristo não foi suficiente para te limpar dos pecados, nenhuma abstenção aqui será capaz de te limpar deles.
“Não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto, sim, contamina o homem. ” Mat 15:11
E como então entender a melhor maneira de guiar sua vida dentro dos preceitos de Deus, buscando estar em linha com os valores espirituais? São dois pontos importantes. O primeiro é se atentar ao que diz Paulo aos gálatas sobre os ensinamentos de Jesus e a liberdade a que fomos chamados ...
“Caros irmãos, fostes chamados para a liberdade. Todavia, não useis da liberdade como desculpa para vos franquear à carne; antes, sede servos uns dos outros mediante o amor. Pois toda a Lei se resume num só mandamento, a saber: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Porém, se mordeis e devorais uns aos outros, cuidado para não vos destruirdes mutuamente! ” Gal5:13-15
... o segundo é entender como saber o que é certo e o que não o é diante de Deus nas situações de nosso dia a dia. Para isto podemos encontrar um direcionamento em Hebreus:
“Esta é a aliança que farei com eles Depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei as minhas leis em seus corações, E as escreverei em seus entendimentos; acrescenta: E jamais me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades. Ora, onde há remissão destes, não há mais oblação pelo pecado. Tendo, pois, irmãos, ousadia para entrar no santuário, pelo sangue de Jesus” Heb 10:16-19
Em suma, a lei está em seu coração, sendo assim você sente o que é certo, e ele a coloca em seu entendimento o que te leva a entender porque aquilo é o certo. Mas se mesmo assim você errar diante disso, não há mais porque tomar qualquer ação de remissão porque ele já te perdoou de tudo. Quando alguém te chamar de pecador lembre-se que esta dívida não é sua, que ele já a pagou por você e você não leva mais este peso nas costas graças a ele.
“Porque, assim como a morte veio por um homem, da mesma forma, por um homem veio a ressurreição dos mortos. ” 1Cor15:21
Da mesma maneira, sem necessidade de aceitar o pecado de Adão.
Assim, fomos chamados a liberdade, fomos chamados a sermos senhores do nosso destino (Salmo 82:6) vivendo em amor debaixo dos cuidados daquele que mais nos amou. Não tente controlar a vida e as atitudes de ninguém, não se permita ser agente da dor e da culpa. Seja amor, cuide e admoeste em amor pois é disso que são feitos os anjos e através dele que a centelha divina se manifesta em ti.
A gente nunca conhece a plenitude dos planos de Deus na vida de alguém. As vezes entendemos que uma pessoa anda por um caminho tortuoso, porém é exatamente por aquele caminho que Deus a mandou andar. Deus nos chama a amar e a viver nossas vidas com liberdade e amor.
Termino deixando no ar ao leitor que chegou até aqui uma reflexão:
“Tens tu fé? Tem-na em ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo naquilo que aprova. ” Rom 14:22
Tens sido um bem-aventurado?
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